quinta-feira, 28 de abril de 2016

A CANETA


Por Carlos Delano Rebouças

Parei para pensar sobre a importância da caneta em nossas vidas. O que um instrumento tão insignificante para alguns, pode ser tão importante para outros?

Um dia nem mesmo era uma esferográfica. Simplesmente uma ponta sedosa de pena, molhada à tinta, que servia para registrar momentos e deixar marcas inapagáveis na vida e na história.

Na verdade ela é parte integrante de nossas vidas. Às vezes, quem sabe involuntariamente, mas sem deixar de enxergar como oportuna, salva vidas e vira o assunto da vez. Não aquelas que por natureza, servem como instrumento de estudo, abrindo caminhos importantes para a edificação humana e profissional. Falo de casos já vistos tantas vezes, quando serviu de escudo, salvando o seu portador que a transportava no bolso esquerdo do peito, desviando um projetil, que insistia em atingi-lo.

Quantos fatos e histórias existem sobre a caneta. Sempre alguém tem em mente um fato a contar. Ei-la como protagonista maior.

Quando escrevemos, em meio a uma atenção total, devida e respeitada, demonstramos atitudes comuns, do tipo que se pode afirmar: “Eu também faço isso”. A caneta parece uma batuta, daquelas que os maestros usam no seu ofício de orquestrar. Também se transforma num mordedor, que segura as rédeas da ansiedade, ou mesmo, um recurso para retirar a sujeira das unhas. Ah! Quando surge aquela coceirinha no ouvido, logo a sua tampa passa a ter uma utilidade além daquela de proteger a esfera por onde se liberai a tinta, e transforma-se, improvisadamente, em hastes flexíveis, popularmente conhecidas como cotonetes.

Mas sem esquecer a verdadeira função da caneta, desmerecendo as suas utilidades, o fato é que também significa um identificador social. Isso mesmo, um instrumento que define quem é quem numa sociedade em que se conhecem preços, desconhecendo valores.
Canetas são produzidas em larga escala pela indústria. Outras carregam consigo a marca de uma história, com produção limitada, com preço tão equiparado quanto ao seu valor e a sua imagem de mercado. Às vezes, tão caras que se tornam presentes sofisticados, como uma joia valiosa. A caneta tem valor.

O valor de poder reproduzir pensamentos, ideias e emoções. O valor, também, de estreitar relações, pertinentes a serem quebradas, também pela razão. Ela escreve os sonhos, os desejos, e até cartas de amores. Faz rir e chorar, e por vezes, divide o papel com as lágrimas que insistem em descolorir a sua escrita. É inquestionavelmente um instrumento comum a todos, intrínseco em nossas vidas, e que na sua ausência e por necessidade, logo permite indagar: Alguém tem uma caneta?

Tenho várias, que escrevem de diferentes formas e em diferentes cores, ideais para cada situação. Esta, oportuna para reconhecer o seu valor e a sua importância, mesmo que passe na vida de muitas pessoas sem ser percebida pela sua grandiosidade.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

LIVRO QUE ASSUSTA

Por Carlos Delano Rebouças

Um jovem semianalfabeto, já com seus 17 anos, e ainda estagnado na vida, após abandono espontâneo na 2ª série do ensino fundamental, foi presenteado com um livro. Se o presente falasse, diria: Muito prazer, meu nome é livro.
Perplexo, olhava para o material editado em busca de imagens, logo na primeira página. Aceitável, pois geralmente é o que mais atrai, à primeira vista.
Mas o jovem queria mais. Demonstrava toda a sua angústia a cada folha que passava, sem mesmo ler uma frase. Coitado, quantas dificuldades demonstrar ter em decodificar! Prefere fixar sua atenção às quase inexistentes imagens, que ficam em segundo plano numa excelente obra da literatura brasileira.
O jovem parece perdido, como se buscasse entender aquilo que foi lhe ofertado. Pergunta quem escreveu; busca detalhes sobre a obra, sob a visão de quem o presenteou; tenta repassar que não é tão desconhecedor quando se percebe; porém, não consegue evitar que se entenda que um livro é algo que está anos luz distante de sua realidade.
Será que foi covardia dar um presente destes a um jovem tão bem parecido, comunicativo, habilidoso com equipamentos eletrônicos, e que sonha em um dia vencer na vida? Prefiro acreditar que se tratou de um belo incentivo para que este jovem melhore seu intelecto e volte a estudar.
Covardia é deixar de incentivar a leitura e desvalorizar a educação como um todo. Triste é ver tantos brasileiros, em todas as faixas etárias, sobretudo, nas fases iniciais da vida, sendo mal orientados quanto à educação. Estudantes que aprendem desde cedo que a educação só é importante pela necessidade de trilhar melhores caminhos na vida profissional, e não, como uma necessidade de edificação humana, em primeiro lugar.
O presente assustou o jovem. Jamais acreditava receber um livro de presente, e veja que nem era seu aniversário. Porém, quem o presenteou não poupou esforços para incentivá-lo à leitura, tanto que a concluiu, na íntegra, e acreditem, já pensa até em ler uma segunda obra.




segunda-feira, 18 de abril de 2016

O CIRCO BRASIL

Por Carlos Delano Rebouças
Quando se imagina um circo, inevitavelmente idealizamos uma grandiosa cobertura de lona, bilheteria, pipoca, trapezistas, animais e palhaços. O circo é na verdade a alegria do povo.
Muitos circos são montados pelo Brasil, levando a alegria a inúmeras pessoas que ainda acreditam que se trata de um espetáculo ímpar, diferente de qualquer outro meio de entretenimento, embora muitos achem que essa representação artística e cultural caminha em passos largos para a sua extinção. Mas no domingo, 17 de abril de 2016, tivemos provas que o circo está armado e continuará por muito tempo, pois “artistas” é que não faltam.
O palhaço, todos já conheciam, só não sabíamos que ele poderia ser um vilão, que se escondia por trás de uma imagem de ingênuo, que de bobo, não tem nada, fazendo lembrar o Trovadorismo – época nostálgica da nossa literatura – em que existia um bobo da corte, que atravessou os tempos, alegrando seus súditos e convidados.
Ontem, nós fomos os convidados. O povo brasileiro viu no picadeiro da Câmara dos Deputados, diversos palhaços, que faziam seus expectadores de bobos de uma corte, a qual tem na presidência, não um leão, forte e imponente, mas uma raposa velha, que sequer merecia estar presente naquele recinto, pois grades lá não existem.
O picadeiro estava lotado. Gritos inflamados, dedicatórias, fantasias..., pareciam grandes como um elefante, mas pequeninos como uma formiga que o amedronta. Como foi fácil gritar neste momento. Quantas pessoas a ouvi-los e vê-los nos diversos vídeos gravados, que servirão de instrumento para suas campanhas eleitorais.
E o palhaço? Não falo daquele nordestino que um dia teve questionada a sua alfabetização. No circo, não precisa de diploma. Palhaço bom é aquele que arrança risadas, mesmo que depois venha o choro. Precisa saber dá o golpe final, de misericórdia, sendo melhor ainda em cima dos mais fracos ou enfraquecidos. Coitada da Democracia!
Sobraram apitos, cores e gritos; faltaram panelas e vergonha. Faltou o nariz vermelho típico do palhaço de verdade, contudo, esta cor não cairia bem no momento, não acham? Vermelho quer dizer corrupção, e isso é coisa de PT. Assim acreditam e defendem aqueles que estão no centro do picadeiro, aliás, do país, sepultando a Democracia.
Como são apaixonados pelas famílias! Agora tenho a certeza de que o Brasil é o país mais cristão do mundo, pois Deus foi homenageado até mesmo pelo Capeta. Até voto por telefone, partindo de filho quiseram dar. Esse é o circo brasileiro, cujos palhaços não querem sair de Brasília, lugar ideal para fazer o povo de bobo.
Faltou o grito: “Hoje tem marmelada? Tem sim, senhor!”.
Mas quem se atreveria a declinar? Ninguém, pois essa fala deveria ser do povo, que está facilmente ludibriado, não com um saco de pipocas nem algodão doce, muito menos uma maçã do amor. Está sendo enganado pelos protagonistas maiores de um circo, sem lona e sem comando, que são os palhaços de colarinho branco.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

SALVO POR UMA LEITURA



Por Carlos Delano Rebouças

"Cresci ouvindo de meu pai que devemos estudar e que este é o único caminho para o sucesso na vida. Assim sempre quis acreditar."

Palavras de Luizinho – menino pobre e sofrido, filho de nordestinos da periferia de São Paulo – enquanto folheava no colchão sujo e úmido, devido às tantas goteiras no barraco que divide com mais seis irmãos, seus pais e seu cãozinho Bolinha, um livro encontrado nas ruas daquela megametrópole, na sua caça pela sobrevivência.

Luizinho não descobrira a leitura. Somente matava as saudades do tempo de escola, abandonada por força das circunstâncias. Tinha que ajudar seus pais a sustentar seus irmãos mais novos, apesar de seus 12 anos. Aquela leitura parecia envolvê-lo num mundo desconhecido, perdido e deixado num passado não tão distante. Imaginava ser aquele garoto que se tornava um grande médico, salvador de vidas e descobridor de fórmulas importantíssimas para erradicação de tantas doenças.

Nem sempre nossas viagens são agradáveis, mas esta de Luizinho parecia ser, até escutar o grito forte de sua mãe: "corra, Luizinho, que seu irmão precisa de ajuda!"

Não precisou correr tanto; bastou virar-se de lado para perceber que seu irmão caçula, com quem dividia seu colchão úmido, sujo e repleto de ácaros, estava engasgado com algum objeto indefinível no momento, já que o nervosismo geral não permitia identificar.

Aquele garoto já estava ficando roxo, perdendo a respiração e a voz do socorro. Seu olhar já se perdia pelas vias obscuras da morte, sob os olhares do desespero de uma mãe e da impotência de um irmão que fisicamente estava muito perto, mas muito distante, viajando num sonho que a leitura o permitia.
De repente, Luizinho num ato impensado e bem mais de desespero, resolve bater em suas costas. Fortes e suficientes para aquele objeto ser expulso pela boca, com ar de alívio. Logo voltaram a respiração e a sua tonalidade normal de pele, acompanhados do suspiro forte de sua mão, com uma intensa respiração, puxada do ponto mais profundo de seus pulmões e da alma. Ah, meu filho teve esse livramento!

Mas o que engasgara aquele pobre menino? Que objeto engoliu, que o levou à fronteira entre a vida e a morte? Luizinho e sua mãe se perguntavam, enquanto catavam-no pelo chão sujo, empoeirado daquele barraco que serviu de cenário do pavor, diante do silêncio do menino que ainda buscava recuperar os sentidos.

Uma tampa de caneta. Seu pequenino irmão simplesmente engoliu a tampa de uma esferográfica que encontrara no lixão da esquina, levando-a para casa, a fim de exercitar a escrita que tanto desejava dominar. Desejo este, que num momento de distração, levou-o a colocar a tampa desta bendita caneta em sua boca.

Passado o sufoco e feitas as devidas orientações, partido principalmente de sua sofrida mãe, Luizinho aproximou-se do irmão, dizendo: “Que bom que deu certo e consegui expelir o objeto. Que bom que encontrei um livro que me fez viajar no sonho de ser um médico, salvador de vidas e descobridor de fórmulas para curar doenças. Bom também saber que ajudei a salvar a sua, na certeza de que a leitura também salva vidas pelo conhecimento e sabedoria, que levam à evolução humana. Foi isso que nos salvou."



quinta-feira, 14 de abril de 2016

VAI PASSAR...


VASO DE FLORES E ROSAS

Autor: Carlos Delano Rebouças

Acredita-se que quando se vê uma casa às escuras, com suas janelas e portas sempre fechadas, mesmo sendo habitada, pode ser um sinal de que ali têm moradores, merecedores de uma atenção especial.

Voltemos à origem da vida. Somos concebidos e passamos longos nove meses no ventre de nossas mães a espera do dia de virmos ao mundo. Expectativas de todas as partes - pais, parentes, amigos, vizinhos - aliás, de todos que acompanharam todo o processo vivido, e, principalmente, do bebê, que não ver a hora de abrir seus olhinhos e enxergar o mundo que lhe foi oferecido, absolutamente. Assim nascemos para a vida em plena liberdade.

Essa tal liberdade, tão almejada, em muitos casos, é castrada pelas mais diferentes razões. Questões de justiça, por exemplo, quando se comete algum crime e que deve cumprir a pena atribuída, ou de doença, também, refém de um leito de hospital, podem restringir o direito de socialização de muita gente. Leva a se conduzir uma vida de forma restrita, fechada, sem aproveitar o mundo e suas belezas como foi sonhado.

Contudo, nem sempre uma prisão ou um hospital significam os calabouços de tantas pessoas que evitam o mundo, as pessoas e as relações. Muita gente tem aparentemente toda a liberdade que Deus lhe deu, desde seu nascimento; muitos, jamais, entraram numa delegacia, quiça numa penitenciária, para fazer sequer uma visita, mas preferem se fechar para a vida, para o mundo, passando a viver o seu mundo, maquiado com um vaso de flores e rosas na frente de sua casa, fechada, querendo respirar, como a sua vida.

Este vaso de flores e rosas pode não exalar o cheiro da liberdade. Tem até quem prefira as flores de plástico, porque não morrem, não é Titãs? Mas ninguém nega que são belas, mesmo que sincronicamente não permitam que sua beleza seja admirada, por se fecharem, ou, quem sabe, por murcharem antes do tempo, pela falta de alegria de viver.

Ornamente a sua vida com prazer, e que tenha o mesmo para viver. A felicidade e o prazer pela vida têm seus estímulos de dentro para fora, também de sua casa, confirmando-se no vaso de flores e rosas no seu jardim. Abra-se para a vida e Permita-se. Encha o seu peito de ar e purifique-se. Respire profundamente e estampe um belo sorriso no rosto, sempre. Jamais deixe que as flores e as rosas que colocaste no vaso, no seu jardim, murchem com a sua vida. Elas não são de plástico.

Ilumine-se, sempre, com a luz que lhe foi dada quando nasceste para o mundo de todos nós, na certeza que chegaste para ser feliz, e que, em nenhum momento e por hipótese alguma, deixará de regar com entusiasmo o jardim de sua vida.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

ESSE É O VELHO E ETERNO CHICO


No alto



O poeta chegara ao alto da montanha,
E quando ia a descer a vertente do oeste,
Viu uma cousa estranha,
Uma figura má.

Então, volvendo o olhar ao subtil, ao celeste,
Ao gracioso Ariel, que de baixo o acompanha,
Num tom medroso e agreste
Pergunta o que será.

Como se perde no ar um som festivo e doce,
Ou bem como se fosse
Um pensamento vão,

Ariel se desfez sem lhe dar mais resposta.
Para descer a encosta 
O outro lhe deu a mão.

Machado de Assis

BIOGRAFIA DE MONTEIRO LOBATO


Monteiro Lobato (1882-1948) foi um escritor e editor brasileiro. "O Sítio do Pica-pau Amarelo" é sua obra de maior destaque na literatura infantil. Criou a "Editora Monteiro Lobato" e mais tarde a "Companhia Editora Nacional". Foi um dos primeiros autores de literatura infantil de nosso país e de toda América Latina. Metade de suas obras é formada de literatura infantil. Destaca-se pelo caráter nacionalista e social. O universo retratado em suas obras são os vilarejos decadentes e a população do Vale do Paraíba, quando da crise do café. Situa-se entre os autores do Pré-Modernismo, período que precedeu a Semana de Arte Moderna.
Monteiro Lobato (1882-1948) nasceu em Taubaté, São Paulo, no dia 18 de abril de 1882. Era filho de José Bento Marcondes Lobato e Olímpia Monteiro Lobato. Alfabetizado pela mãe, logo despertou o gosto pela leitura, lendo todos os livros infantis da biblioteca de seu avô o Visconde de Tremembé. Desde menino já mostrava seu temperamento irrequieto, escandalizou a sociedade quando se recusou fazer a primeira comunhão. Fez o curso secundário em Taubaté. Com 13 anos foi estudar em São Paulo, no Instituto de Ciências e Letras, se preparando para a faculdade de Direito.
Registrado com o nome de José Renato Monteiro Lobato, resolve mudar de nome, pois queria usar uma bengala, que era de seu pai, que havia falecido no dia 13 de junho de 1898. A bengala tinha as iniciais J.B.M.L gravadas no topo do castão, então mudou de nome, passou a se chamar José Bento, assim as suas iniciais ficavam iguais às do pai.
Ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco na capital, formando-se em 1904. Na festa de formatura fez um discurso tão agressivo que vários professores, padres e bispos se retiraram da sala. Nesse mesmo ano voltou para Taubaté. Prestou concurso para a Promotoria Pública, assumindo o cargo na cidade de Areias, no Vale do Parnaíba, no ano de 1907.
Monteiro Lobato casou-se com Maria Pureza da Natividade, em 28 de março de 1908. Com ela teve quatro filhos, Marta (1909), Edgar (1910), Guilherme (1912) e Rute (1916). Paralelamente ao cargo de Promotor, escrevia para vários jornais e revistas, fazia desenhos e caricaturas. Ficou em Areias até 1911, quando muda-se para Taubaté, para a fazenda Buquira, deixada como herança pelo seu avô.
No dia 12 de novembro de 1912, o jornal O Estado de São Paulo publicou uma carta sua enviada à redação, intitulada "Velha Praga", onde destaca a ignorância do caboclo, criticando as queimadas e que a miséria tornava incapaz o desenvolvimento da agricultura na região. Sua carta foi publicada e causou grande polêmica. Mais tarde, publica novo artigo "Urupês", onde aparece pela primeira vez o personagem "Jeca Tatu".
Em 1917 vende a fazenda e vai morar em Caçapava, onde funda a revista "Paraíba". Nos 12 números publicados, teve como colaboradores Coelho Neto, Olavo Bilac, Cassiano Ricardo entre outras importantes figuras da literatura. Muda-se para São Paulo, onde colabora para a "Revista do Brasil". Entusiasmado compra a revista e, transformando-se em editor. Publica em 1918, seu primeiro livro "Urupês", que esgota sucessivas tiragens. Transforma a Revista em centro de cultura e a editora numa rede de distribuição com mais de mil representantes.
No dia 20 de dezembro de 1917, publica no jornal O Estado de São Paulo, um artigo intitulado "Paranoia ou Mistificação?", onde critica a exposição de Anita Malfatti, pintora paulista recém chegada da Europa. Estava criada uma polêmica, que acabou se transformando em estopim do movimento modernista.
Monteiro Lobato, em sociedade com Octalles Marcondes Ferreira, funda a "Companhia Gráfico-Editora Monteiro Lobato". Com o racionamento de energia, a editora vai à falência. Vendem tudo e fundam a "Companhia Editora Nacional". Lobato muda-se para o Rio de Janeiro e começa a publicar livros para crianças. Em 1921 publica "Narizinho Arrebitado", livro de leitura para as escolas. A obra fez grande sucesso, o que levou o autor a prolongar as aventuras de seu personagem em outros livros girando todos ao redor do "Sítio do Pica-pau Amarelo". Em 1927 é nomeado, por Washington Luís, adido comercial nos Estados Unidos, onde permanece até 1931.
Como escritor literário, Lobato destacou-se no gênero "conto". O universo retratado, em geral são os vilarejos decadentes e as populações do Vale do Parnaíba, quando da crise do plantio do café. Em seu livro "Urupês", que foi sua estreia na literatura, Lobato criou a figura do "Jeca Tatu", símbolo do caipira brasileiro. As histórias do "Sítio do Picapau Amarelo", e seus habitantes, Emília, Dona Benta, Pedrinho, Tia Anastácia, Narizinho, Rabicó e tantos outros, misturam a realidade e a fantasia usando uma linguagem coloquial e acessível.
O livro "Caçadas de Pedrinho", publicado em 1933, que faz parte do Programa Nacional Biblioteca na Escola, do Ministério da Educação, está sendo questionado pelo movimento negro, por conter "elementos racistas". O livro relata a caçada a uma onça que está rondando o sítio. "É guerra e das boas, não vai escapar ninguém, nem tia Anastácia, que tem cara preta".
José Renato Monteiro Lobato morreu no dia 5 de julho de 1948, de problemas cardíacos.

Obras de Monteiro Lobato

Idéias de Jeca Tatu, conto, 1918
Urupês, conto, 1918
Cidades Mortas, conto, 1920
Negrinha, conto, 1920
O Saci, literatura infantil, 1921
Fábulas de Narizinho, literatura infantil, 1921
Narizinho Arrebitado, literatura infantil, 1921
O Marquês de Rabicó, literatura infantil, 1922
O Macaco que se fez Homem, romance, 1923
Mundo da Lua, romance, 1923
Caçadas de Hans Staden, literatura infantil, 1927
Peter Pan, literatura infantil, 1930
Reinações de Narizinho, literatura infantil, 1931
Viagem ao Céu, literatura infantil, 1931
Caçadas de Pedrinho, 1933
Emília no País da Gramática, literatura infantil, 1934
História das Invenções, literatura infantil, 1935
Memórias da Emília, literatura infantil, 1936
Histórias de Tia Nastacia, literatura infantil, 1937
Serões de Dona Benta, literatura infantil, 1937
O Pica-pau Amarelo, literatura infantil, 1939

Fábulas de Monteiro Lobato

O Cavalo e o Burro
A Coruja e a Águia
O Lobo e o Cordeiro
O Corvo e o Pavão
A Formiga Má
A Garça Velha
As Duas Cachorras
O Jaboti e a Peúva
O Macaco e o Coelho
O Rabo do Macaco
Os Dois Burrinhos
Os Dois Ladrões
A caçada da Onça

Jeca Tatu

É no livro "Urupês", que Monteiro Lobato retrata a imagem do caipira brasileiro, onde destaca a pobreza e a ignorância do caboclo, que o tornava incapaz de auxiliar na agricultura. O Jeca Tatu é um flagrante do homem e da paisagem do interior. O personagem se tornou um símbolo nacionalista utilizado por Rui Barbosa em sua campanha presidencial de 1918. Na quarta edição do livro, Lobato pede desculpas ao homem do interior.

GRANDE RECORDAÇÃO!


É?


E VEM O SOL

Ilustração: Odilon Moraes
Tinham acabado de se mudar para aquela cidade. Passaram o primeiro dia ajeitando tudo. Mas, no segundo dia, o homem foi trabalhar, a mulher quis conhecer a vizinha. O menino, para não ficar só num espaço que ainda não sentia seu, a acompanhou. 

Entrou na casa atrás da mãe, sem esperança de ser feliz. Estava cheio de sombras, sem os companheiros. Mas logo o verde de seus olhos se refrescou com as coisas novas: a mulher suave, os quadros coloridos, o relógio cuco na parede. E, de repente, o susto de algo a se enovelar em sua perna: o gato. Reagiu, afastando-se. O bichano, contudo, se aproximou de novo, a maciez do pêlo agradando. E a mão desceu numa carícia. 

O menino experimentou de fininho uma alegria, como sopro de vento no rosto. Já se sentia menos solitário. Não vigorava mais nele, unicamente, a satisfação do passado. A nova companhia o avivava. E era apenas o começo. Porque seu olhar apanhou, como fruta na árvore, uma bola no canto da sala. Havia mais surpresas ali. Ouviu um som familiar: os pirilins do videogame. E, em seguida, uma voz que gargalhava. Reconhecia o momento da jogada emocionante. Vinha lá do fundo da casa o convite. O gato continuava afofando-se nas suas pernas. Mas elas queriam o corredor. E, na leveza de um pássaro, o menino se desprendeu da mãe. Ela não percebeu, nem a dona da casa. Só ele sabia que avançava, tanta a sua lentidão: assim é o imperceptível dos milagres. 

Enfiou-se pelo corredor silencioso, farejando a descoberta. Deteve-se um instante. O ruído lúdico novamente atraiu o menino. A voz o chamava sem saber seu nome. 

Então chegou à porta do quarto - e lá estava o outro menino, que logo se virou ao dar pela sua presença. Miraram-se, os olhos secos da diferença. Mas já se molhando por dentro, se amolecendo. O outro não lhe perguntou quem era nem de onde vinha. Disse apenas: quer brincar? Queria. O Sol renasceu nele. Há tanto tempo precisava desse novo amigo.

VALE A PENA RECORDAR


A laranja, o gato e o matuto

 


Certa manhã ensolarada de domingo, em uma cidadezinha do interior, passeava eu pela pracinha daquela localidade quando vi um matuto vendendo laranjas. Aproximei-me e vi que eram laranjas de sabor doce e me animei a comprar uma dúzia delas.
 
Enquanto o matuto colocava as laranjas dentro de um saco de papel, eu, me julgando um cara esperto, falei:

– Olha, não deixe de colocar a do gato. Meu gato lá em casa fica miando toda vez que não levo laranja para ele. Sardinha ele não gosta não, mas laranja...
 
O matuto, sem dizer uma palavra, colocou a 13ª laranja no saco e me entregou. Animado pela atitude obediente do matuto, decidi pedir mais uma dúzia. Enquanto ele preparava o saco de papel para ensacar as laranjas, entoei novamente aquela:

– Olha, nesta dúzia também não esqueça a do gato.

O matuto continuou colocando as laranjas, sem dizer uma palavra.
 
Para quebrar um pouco o gelo daquele silêncio pesado que ficou no ar, emendei:

– Sabe, companheiro, esse gato que eu tenho lá em casa tá me incomodando muito. Toda vez é isso aí: eu chego em casa e ele fica miando, miando, miando... Sabe, o bichano não está me servindo mais. Acho que vou acabar me desfazendo desse gato.
 
Foi quando o matuto, quebrando o silêncio, repentinamente, me retrucou:

– Desfaz dele não, seu moço. Esse gato tá sendo muito útil pro senhor.
 
“Nunca subestime a inteligência de um matuto.”

BELAS CANÇÕES


LINDA CANÇÃO


DICA DE PORTUGUÊS


UMA VIDA PELO RETROVISOR




Por Carlos Delano Rebouças

A vida é uma viagem, que tem um ponto de partida e um ponto de chegada, que nem sempre é onde planejamos e desejamos chegar. Muitas vezes encurtadas, inesperadamente, ou quem sabe, bem mais longa do que imaginamos ser.

Nossa imaginação nos leva a lugares que nossos pés e aceleradores sequer conseguem chegar. Semeamos sonhos, utópicos ou não, e deles, colhemos frutos que nos garantem uma boa lembrança.

Pelo retrovisor da vida, não permite enxergar a possibilidade de retornar. Está distante de mais para voltar. O obstáculo vencido, ultrapassado, este, ficou para trás, perdido, distante, pequeno, pequenino..., que lente alguma permite buscar. Somente recordar, servindo de combustível para os novos caminhos da vida.

Para com a estrada da vida, sempre pensamos longa, mas qual o limite de nossa extensão, de nossos desejos? Devemos viver cada momento, cada instante como se fossem únicos, breves? Vai saber! A vida prega cada peça...!

Só sei que onde a máquina me leva, horizontes e fronteiras são iguais. Assim dizia o poeta, sem especificar que essa máquina é a vida, que um dia deixa de funcionar, para, tendo o seu ponto final decretado, mesmo contrariando a vontade de tantos; mesmo sendo a vontade de poucos, de Deus.

Quando a viagem termina, encerra-se o ciclo e começa outro, principalmente para quem permanece na estrada, na condução de sua vida, olhando em seu retrovisor, puxando a memória nas suas lembranças, em especial, as boas, sobretudo, aquelas que marcam, como uma frenagem no asfalto das recordações.

A estrada é de todos nós e nela estamos sempre em viagem. Não importa para onde for, a bagagem que levamos, nem com quem vamos. O certo é que sozinhos seguimos o nosso caminho, com o tempo de parada único, exclusivo, sem mais contar com um retrovisor para olhar.