domingo, 24 de junho de 2018

APONTAMOS PROBLEMAS E NOS ISENTAMOS DA CULPA



Carlos Delano Rebouças


Difícil não encontrar um brasileiro que não aponte um problema existente no país, que aflija a sociedade, prejudicando-a de alguma forma, dificultando em alguma forma a convivência saudável e harmoniosa entre seus membros.

Os problemas são inúmeros, desde os sociais, que envolvem a violência urbana, desigualdades sociais, má distribuição de renda, tráfico e consumo de drogas, dentre outras, até os administrativos, que são os de gestão pública, que redunda nos sociais, como também, econômicos e financeiros, além, é claro, os culturais. Ou seja, acabamos de nos ratificar como um desses brasileiros que conseguem definir claramente algumas mazelas de nossa sociedade, facilmente, ficando somente, no apontamento, e nada mais.

Até parece que é bem mais fácil apontar tais problemas, sobretudo, colocando-se exclusivamente como vítimas de suas consequências, como se em nenhum momento, por mais que provemos o contrário, viéssemos a acreditar que damos a nossa parcela de contribuição, sempre, mas sem assumi-la conscientemente.

Reclamamos dos políticos que são corruptos, mas somos nós, corruptos e corruptivos, que os escolhemos como nossos representantes públicos. Reclamamos da sujeira da cidade e somos nós que descartamos de qualquer jeito e em todo lugar. Somos nós que reclamamos da violência, mas viramos a cara para quem precisa e pede socorro, com uma postura preconceituosa, humilhante, que causa revolta. E somos nós, brasileiros, que desacreditamos da educação, sem a sua perfeita valorização e, com isso, agindo com a emoção, em vez da razão, ou com certa dose de equilíbrio, e acabamos tomando atitudes que vão de encontro ao que se entende por justo e correto aos olhos da lei e da sociedade.

Assim nos revelamos – muito mais opiniáticos e bem menos críticos – e faz com que a sociedade seja feita de homens que somente atiram para todos os lados, apontando dedos, encontrando culpados, sem ao menos refletir sobre a sua participação, numa completa falta de sensibilidade, na mais perceptível inflexibilidade diante das situações existentes. Mas quando vamos assumir as nossas culpas, em vez de apontar culpados, sem que nos vejamos entre eles? Acredito que está muito longe de acontecer esse feito.

Historicamente, o homem se comporta assim – covarde nas suas atitudes – e é bem mais visível nas sociedades menos desenvolvidas, como a nossa, onde o simples ato de assumir a autoria de ato questionável, que significa o primeiro de longos passos para a transformação da sociedade, em busca de soluções, sequer se percebe no convívio familiar, na base do processo de formação.

A mudança, de fato, é difícil, mas não impossível, e precisamos entender que começa em cada um dia nós, numa autorreflexão sobre as nossas atitudes, sobre o que temos ou não de direitos e deveres, diante de uma correta definição sobre o que sejam, além, é claro, de muito bom senso, mesmo que para isso, seja preciso assumir a sua realidade, suas fragilidades, com muita humildade.

domingo, 3 de junho de 2018

MEUS SONHOS PERDIDOS



Carlos Delano Rebouças

Pode parecer impossível de acreditar que o comportamento humano se mantém inerte ao longo do tempo para muitos que demonstram acreditar que nada preocupa quanto ao futuro, muito menos em relação a um presente que não poupa momentos difíceis na condução de suas vidas. É a pura demonstração de conformismo misturada a uma postura sem perspectiva, e porque não acovardada, diante de uma realidade que até dá mostras de cruel e injusta, mas que permite, com sapiência, lutar por uma melhor condição de vida.

O mesmo pai que educa o seu filho, hoje, que acredita que a sua maneira é a insuperável fórmula do sucesso, na certeza de que é perfeita e infalível porque assim foi educado pelos seus pais, em muitos casos não demonstra bom senso em aceitar que precisa fazer uma urgente reflexão sobre a educação que vem dando ao filho, em relação à maneira como se comporta em sociedade, bem como a uma forma mais ponderada de reagir diante das transformações que o mundo passa em todos os aspectos, os quais nos influenciam a ponto de nos lapidar conforme as necessidades que o mundo exige e cobra para uma ideal convivência.

Diante dessa compreensão de que se faz necessário um perfeito alinhamento no processo de formação dos filhos envolvendo pais, família, escola, comunidade e sociedade como um todo, sem tempo a perder, avaliemos a postura discente no ambiente escolar, como um dos pilares da formação humana no qual o aluno desenvolve conhecimentos em busca de se encontrar com a condição planejada em parceria com seus interesses, bem como de sua família também, levando em conta as oportunidades que o mundo oferece. Contudo, nem sempre os interesses caminham numa via de mão única, e quando falta o desenvolvimento de um projeto de vida, somado ao desejo imediato de satisfazer bem mais as vontades, estas ordenadas pela vaidade do homem em meio a uma sociedade que induz o desejo de ter, de consumir, logo surge a quebra do compromisso com um futuro melhor, esse mesmo que outrora alimentava o sonho de criança, bem como de pais e responsáveis, o de fazer diferente do que foi feito por eles.

E sem demora nasce um novo homem, aquele que acredita que tudo é fácil e que deve funcionar da maneira na qual acredita ser a certa. Seus sonhos são sepultados e lembrados saudosamente apenas quando se depara com um vencedor, quase sempre aquele que foi tachado como o certinho da turma, o mesmo que não acreditava perder tempo por se comportar diferente da maioria, que dá seu testemunho de perseverança e obstinação, e que nem por um efêmero momento sequer desperta uma pontinha de inveja que o leve a pensar que poderia ser o protagonista de sua história de vida.