terça-feira, 9 de outubro de 2018

Qualidade da educação em xeque


Carlos Delano Rebouças
Diferentemente de duas décadas atrás, o Brasil nunca havia ofertado tantas oportunidades para a aquisição de uma formação em nível superior, e mesmo de pós-graduação, nas mais variáveis áreas do conhecimento. Antes, com a exceção das entidades públicas, existiam pouquíssimas outras na iniciativa privada, e ainda bastante restrita quanto ao número de cursos e de áreas de formação.
Não demorou a haver uma verdadeira avalanche de novas entidades de ensino superior, sobretudo, pelo incentivo do poder público federal dos últimos governos. Novas instituições surgem a cada dia, oferecendo oportunidades diversas ao mercado, que entende que se faz necessário uma boa formação para se tornar competitivo, atendendo às suas exigências conforme a área de atuação.
Da mesma forma que surgiram novas instituições, oportunidades também chegaram para profissionais de educação, com alguma licenciatura, ou até mesmo para muitos que nunca pensaram em lecionar, por exemplo, advogados, engenheiros, médicos jornalistas, arquitetos e tantos outros de várias áreas de formação, responsáveis pelo repasse de conhecimentos, pela formação em alto nível de novos profissionais que desejam bem mais que adquirir conhecimentos, querem, na verdade, conquistar o tão sonhado diploma, acreditando que se trataria da inevitável abertura para o mercado de trabalho pelo resto de suas vidas.
Mas nem tudo vem acontecendo como o esperado, ou seja, nem as portas ficaram escancaradas para todos os diplomados, muitos frustrados do investimento feito que acreditaram que apenas com a realização de um curso de nível superior seria suficiente para o seu sucesso profissional, nem a tarefa de professor parece ser uma experiência maravilhosa para todos os profissionais. O que de fato se observa em muitos – docentes e discentes – é o desejo urgente de suprir uma necessidade, seja a de uma formação que atenda às necessidades do estudante de se encontrar no mercado de trabalho, que possa lhe garantir uma vida mais tranquila, seja a de complementar a sua renda como professor em algum horário livre, ou de se aventurar em uma nova atividade que venha a substituir uma escolha feita que não redundou em sucesso ou felicidade.
E o que resta a estudantes e professores, sobretudo aqueles que não estejam tendo suas expectativas atendidas, sejam elas deslumbramento com o futuro de sucesso profissional, sejam elas de total identificação com o ofício de professor, que requer bem mais que uma formação na área, requer conhecimentos e habilidades didáticas que não se aprende em qualquer curso?
Resta compreender que a educação deve ser feita com mais empenho e dedicação, a começar por uma mudança radical na postura das instituições de ensino, passando a ter um compromisso maior firmado com a qualidade e responsabilidade, desde a sua estruturação – física, administrativa e pedagógica – continuando com processos de seleção de alunos mais criteriosos e recrutamento de profissionais, especialmente de professores na mesma ordem, levando em conta sua formação, identificação com o ofício e história na educação, para que o objetivo maior – que é uma educação de qualidade que satisfaça todas as necessidades – seja absolutamente alcançado.
Mesmo sabendo que pode parecer utópico acreditar que a educação no Brasil – bem mais maquiada que verdadeira, sem de fato suas estatísticas corresponderem a verdade do que se espera de resultados que comprovam a qualidade do ensino – vamos vivendo, infelizmente, de enganações, de “faz de conta”, em um mundo capitalista no qual as instituições sabem que para sobreviver competitivamente precisam desconsiderar diversas prerrogativas que garantem a qualidade da educação. Essa é a realidade desnuda de um país que parece enxergar na educação de qualidade o seu maior inimigo.

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