segunda-feira, 14 de maio de 2018

A BOA ESCOLA E O BOM PROFESSOR



Carlos Delano Rebouças

Qual é o bom professor para o aluno? Quem recebe aplausos e gritos de “Você é o cara!” ou “Você é o melhor professor que já tive na vida!”?
Antes de responder tais indagações, temos que nos atentar para os conceitos que possuímos sobre educação – sobre a importância que a damos – necessária de ser edificada desde a base familiar, esta que, inevitável e intimamente, exige outras necessidades, sobretudo à disciplina, fator que tanto incomoda as pessoas na sua maioria.
Muito fácil agradar ao aluno com uma performance circense, artística e conveniente, fechando os olhos para a verdadeira necessidade de se comprometer com a sua ideal lapidação para a vida, não somente com vistas a aquisição de conhecimentos, mas também na formação de um cidadão – na verdadeira acepção da palavra, conhecedor de seus deveres e direitos, ético, honrado – digno de ser tratado como tal. Muito fácil ser um “showman” em sala de aula, bem mais preocupado em promover a sua imagem de “tiozão”, para depois checar nas redes sociais a sua popularidade, que simplesmente adotar uma postura de menos estrelismo, mais focada na melhor formação do aluno.
“Mas é o que resta para o professor”: respondem muitos que vestem essa carapuça. “É ser criativo, e isso é que o aluno deseja de um professor”: assim dizem outros. Ah! O aluno adora tudo isso, de verdade, mas será que supre a sua necessidade de momento para um futuro melhor? Será que surtirá os efeitos plenamente necessários para um mundo cruel e injusto nas suas cobranças? Viva ao professor que sabe executar as duas funções com mestria! Parabéns aos alunos e à escola que tem em seu excelente professor um grande artista! A escola tira o chapéu para você, polivalente profissional, já que para ela o que vale é o sorriso no rosto do aluno, não é?
Pena que a escola não está com essa preocupação, aliás, a única que existe é de manter-se forte na disputa pelo aluno – aquele que paga e que pode ser fisgado pelo concorrente – esperando dele somente resultados que possam engrandecer a sua imagem de mercado. Assim funciona o clientelismo nas escolas privadas do Brasil.
Certo tempo, diariamente, costumava passar em frente a uma grande escola de Fortaleza, renomada, e uma coisa me chamava atenção: via logo na sua entrada, após as catracas de acesso, um batalhão de coordenadores recepcionando alunos com abraços, beijinhos e votos de bom-dia. Gostaria muito de saber se fosse numa escola pública se fariam isso. Certamente que não, pois reside aí a diferença de tratamento que muitas vezes se estende à sala de aula com o professor que lá recebe o aluno diariamente.
O professor de uma escola dessas sabe que muito mais que repassar conhecimentos ao aluno e contribuir para a sua formação humana e social, precisa ser a extensão da escola em sala de aula, agradando-o de todas as formas, para receber tapinhas nas costas nos corredores e quem sabe, no dia de sua avaliação, ser bem pontuado e ter seu emprego garantido. Ao final, tudo fica uma beleza, ou seja, escola e professor bem conceituados na opinião mal edificada do aluno sobre os verdadeiros conceitos de educação de qualidade.
E essa roda viva da educação no Brasil permanece e continua a girar diante dos interesses divergentes. Infelizmente temos que nos acostumar com isso, pois não vemos a mínima possibilidade de mudanças. A escola continuará enxergando o aluno como a sua maior fonte de riqueza; o professor continuará sendo o maior artista circense da sala; e o mundo também continuará sendo esse imenso palco das desilusões, resultantes de uma educação mal desenvolvida, embora não pareça para muitos, pois o que mais importa é o título que carrega.


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