segunda-feira, 21 de agosto de 2017

O VENENO

Era uma vez, há muitos e muitos anos, uma moça muito bonita chamada Lili, moradora de uma pequena aldeia chinesa, ela tinha acabado de se casar e, como mandava a tradição, fora morar com a sogra. Mas, com apenas uma semana de convivência, a recém-casada começou a se desentender com a velha.
Lili implicava com as manias da sogra, punha defeito em tudo o que ela fazia, detestava seu jeito, temperamento e humor. Em um mês, as discussões e brigas eram freqüentes e intermináveis.
Desesperada com a situação, Lili procurou o venerável senhor Huang, o ancião da aldeia, explicou-lhe como sua vida tinha se transformado num inferno e lhe pediu um pouco de veneno para se livrar da sogra.
O sábio ouviu atentamente e, depois de refletir, disse que iria ajudá-la:
– Você é jovem, tem a vida toda pela frente e merece a felicidade. Vou lhe dar essa mistura de ervas, que é um veneno de ação lenta. Misture-o no chá da sua sogra a cada dois dias e, em alguns meses, ela nunca mais a molestará. Observe apenas isto: para não despertar suspeitas, você deve tratá-la com respeito e cordialidade.
Lili escondeu as ervas em sua roupa e voltou para casa decidida a levar a cabo o seu plano.
Assim, a moça passou a disfarçar sua aversão à sogra e começou a tratá-la como se fosse uma amiga de infância. De manhã, tomava sol com ela na varanda, depois a ajudava a preparar o almoço e, no fim da tarde, servia-lhe o chá que a cada dois dias, conforme as instruções de mestre Huang.
Com esse novo comportamento, em apenas alguns dias o clima na casa mudou totalmente. As brigas e as discussões cessaram. Em um mês a família já se reunia após o jantar para contar histórias e trocar experiências. Em dois meses, Lili, o marido e a sogra passaram a fazer passeios juntos, como se sempre tivessem sido uma família unida e feliz.
Foi por volta dessa época que Lili percebeu que não estava representando mais, ela realmente tinha se afeiçoado à sogra. Arrependida de um dia ter planejado assassiná-la, Lili correu a visitar novamente o sábio da aldeia.
– Venerável Huang, disse ela, lamento o que fiz. Eu lhe imploro, dê-me o antídoto para a mistura de ervas que o Senhor me deu. Não quero mais que a minha sogra morra. Ela se tornou uma senhora gentil, que eu a prezo, como se fosse minha própria mãe.
Com aquele jeito misterioso e astuto dos sábios chineses, mestre Huang sorriu:
– Lili, disse ele, não precisa se preocupar. As ervas que lhe dei não eram venenosas, e sim vitaminas para fortalecer a saúde de sua sogra. O único veneno que havia estava apenas na sua mente e na sua atitude. Mas ele foi jogado fora quando você abandonou suas resistências e prevenções e foi substituído pelo apreço que você agora sente por ela.

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