sexta-feira, 31 de março de 2017

SOMOS ASSIM MESMO


por Carlos Delano Rebouças

Certa vez ouvi de um aprendiz que todos nós somos um CPF. Detalhe: foi meu jovem aprendiz de atividades bancárias e era bem dessa forma que via o ser humano ser tratado no ambiente bancário.

Diante desse pensamento, a priori, que pode significar um parecer prematuro de um jovem que mal se iniciava no mercado de trabalho, sobretudo influenciado pelo ponto de vista dos mais experientes, entendemos que tem toda a razão de enxergar dessa forma, aliás, digo-lhe muito obrigado, pois me serviu de avaliação sobre outros cenários em que nós nos inserimos.

Para a segurança pública, não passamos de bases. Registros de crimes diversos em que o homem é o maior protagonista, que tem cara de matemática, ou seja, são números, frações, elementos e dados de uma convivência social que precisamos manter e que tem seu preço. Na verdade, são características de uma ciência exata que não sabe precisar aonde a humanidade vai chegar.

Para a medicina, por exemplo, somos diagnóstico e prognóstico; alegrias e tristezas; sucessos e insucessos. Somos esperança? Talvez! Quem sabe, um caso a se confirmar, mas, caso se confirme, com toda a frieza existente de uma ética obedecida milenarmente.

Somos também parte de uma geografia que delimita a nossa posição social, política e econômica dentro de um espaço e de uma sociedade. Mistura-se com a história nessa questão de definir o homem como elemento economicamente ativo ao longo dos tempos, dentro de sistemas políticos que pouco o favorece. Conta a história de mais um de tantos e de tantas nações que foram colonizados e explorados, e que continua, continua, continua...

Passamos, então, a ser somente peças de um jogo em que o raciocínio pouco nos interessa, já que somos apenas peças, manuseáveis e manipuláveis de um jogo sem regras definidas. Somos descartáveis, preteridos quase sempre, e preferidos em alguns momentos quando o interesse prevalece. No jogo da vida, somos bem assim mesmo.

Na visão da física, somos um corpo que sobe e desce na gangorra da vida; que não ocupa um mesmo espaço, diga-se de passagem, disputadíssimo. Somos vítimas quase sempre de uma ação que nem sempre tem uma reação à altura da que necessita, aliás, bem mais incorreta. E sem perder muito tempo, chego à química que até tenta nos identificar pela nossa essência, mas, por meio de tantas transformações, que a biologia define como metamorfose, fracassa em tentar encontrar a fórmula da nossa felicidade, se é que existe.

Aí, você me pergunta: Como um autêntico professor de Língua Portuguesa, defensor de que todo nativo deve honrar o nosso vernáculo como o bem maior de uma nação, em que momento somos nossa língua nessa interessante analogia da vida?


Somos tudo que descrevemos, narramos e dissertamos; somos tudo o que defendemos de belo, de interessante e de intrigante. Somos tudo que instigamos pela fala e a escrita; somos gestos e silêncio. Somos um grito calado numa multidão que desconhece o seu valor, que sequer consegue decodificar, quanto mais ler um texto que edifique e o transforme. Somos um texto assim.

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