terça-feira, 24 de janeiro de 2017

A real insignificância do ser


por Carlos Delano Rebouças

Confesso que não costumo assistir tanto, principalmente nos últimos tempos, mas muitas matérias exibidas nos sanguinários programas policiais da televisão brasileira me chamaram a atenção por diversos aspectos, principalmente, aqueles que se referem a valores humanos.

É fato a crescente evolução da insegurança em nosso país e a prática de crimes diversos, principalmente, homicídios. É fato que a visão sobre a vida está banalizada e que existe um total abandono pelas autoridades públicas sobre a sua qualidade e manutenção. Tudo isso é fato, indiscutível.

Mas o comportamento humano é que preocupa, não somente aquele que leva à prática de crimes, reprováveis pela sociedade e abominados em todos os seus aspectos, porém, não mais pela sua maioria. Até parece que passamos a encarar determinados comportamentos como naturais e aceitáveis, que outrora, eram inteiramente combatidos.

Hoje, quem rouba, trafica, engana e até mata, infelizmente, adquire seu respeito na sociedade. Mas quem os respeita de verdade? São pessoas que perderam absolutamente a noção de cidadania, de respeito e de valores? Membros da sociedade que valorizam o “ter” em detrimento do “ser”. Não importa como adquiriu ou conquistou. Importa, sim, o que tem no momento. Prazer e felicidade efêmeros.

Fico extremamente estarrecido quando vejo um corpo caído ao chão, sem vida, cercado por tantas pessoas que não mais sabem valorizar a vida. Debocham da pessoa, demonstram todos os preconceitos que carregam no coração, analisando a estética, as roupas, a cor e a forma como o corpo caiu e permaneceu, até a chegada da imprensa, que com suas lentes, chamam a atenção para registros de risos e gestos, alheios ao sofrimento da família e a dor da perda. Tal descrição levou-me a lembrar do magnífico conto de Dalton Trevisan, intitulado “Uma vela para Dario”.

O homem está perdendo a noção das coisas, aliás, de tudo. Demonstra com suas atitudes um real retrocesso quanto a sua evolução. Sentimento não tem mais. Dor não mais sente nem compartilha. Não se sensibiliza mais com o sofrimento alheio. Vale mais os seus interesses e o desejo de conquistar algo palpável, tangível, bem distante de alimentar um abstrato sentimento de amor pelo seu semelhante.

E o que podemos dizer de tudo isso? Qual a mensagem que podemos nos deixar e transmitir?  Resta, somente, dizer: “Muda homem! Muda logo, antes que chegue a hora do arrependimento, pois, pelo que prevemos, a fila vai está muito extensa”. 

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