segunda-feira, 4 de abril de 2016

A laranja, o gato e o matuto

 


Certa manhã ensolarada de domingo, em uma cidadezinha do interior, passeava eu pela pracinha daquela localidade quando vi um matuto vendendo laranjas. Aproximei-me e vi que eram laranjas de sabor doce e me animei a comprar uma dúzia delas.
 
Enquanto o matuto colocava as laranjas dentro de um saco de papel, eu, me julgando um cara esperto, falei:

– Olha, não deixe de colocar a do gato. Meu gato lá em casa fica miando toda vez que não levo laranja para ele. Sardinha ele não gosta não, mas laranja...
 
O matuto, sem dizer uma palavra, colocou a 13ª laranja no saco e me entregou. Animado pela atitude obediente do matuto, decidi pedir mais uma dúzia. Enquanto ele preparava o saco de papel para ensacar as laranjas, entoei novamente aquela:

– Olha, nesta dúzia também não esqueça a do gato.

O matuto continuou colocando as laranjas, sem dizer uma palavra.
 
Para quebrar um pouco o gelo daquele silêncio pesado que ficou no ar, emendei:

– Sabe, companheiro, esse gato que eu tenho lá em casa tá me incomodando muito. Toda vez é isso aí: eu chego em casa e ele fica miando, miando, miando... Sabe, o bichano não está me servindo mais. Acho que vou acabar me desfazendo desse gato.
 
Foi quando o matuto, quebrando o silêncio, repentinamente, me retrucou:

– Desfaz dele não, seu moço. Esse gato tá sendo muito útil pro senhor.
 
“Nunca subestime a inteligência de um matuto.”

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