domingo, 23 de agosto de 2015

A CULPA É DA CULPA

Culpa não existe. Culpa é um sistema criado para manipulação das massas. Se você sente culpa por alguma coisa, qualquer coisa, parabéns, você faz parte de uma massa manipulada por alguém! E enquanto isso, você se distancia de ser alguém de verdade e continua sendo mais um peão nesse jogo.
Mas eu sinto culpa e esse sentimento é real! Não é uma invenção, uma manipulação.
É sim. O que prova que você foi tão manipulado que não consegue pensar diferente. Mas se a culpa é um sentimento real e manipulado ao mesmo tempo, só existe uma explicação: sentimos algo que aprendemos a chamar de culpa, que não é culpa. É engraçado que existem sistemas e teorias inteiras baseadas no conceito de culpa, que só servem para propagar essa enganação. O sistema legal é uma delas, por exemplo. A teoria psicanalítica utiliza de conceitos de moralidade e culpa também. E quem as ouve e acredita nisso só está se enterrando mais nesse pântano.
Mas o que é isso que eu sinto então?
Todos nos seres vivos e existentes nesta terra somos fadados a fazer escolhas e sermos livres. “Somos todos condenados à liberdade“. Essa talvez seja a única coisa da qual não temos escolha: a liberdade. Na real, podemos escolher não termos escolha e vivermos de má-fé, nos enganando o tempo todo (é isso que faz a maioria das pessoas). Mas, para chegarmos nesse ponto, tivemos que fazer uma escolha e escolhemos constantemente nos manter nesse estado.
Por sermos seres livres, temos que fazer escolhas. Escolher por escolher é simples: o problema é que toda escolha tem sua consequência e é aí que vem o “X” da questão.
Quando nos deparamos com o desconhecido, nosso organismo ativa um sistema de auto-defesa que nos avisa que algo está errado. É um alerta, uma sensação desagradável que basicamente nos faz ficar atentos ao perigo e termos a reação ou de lutar ou de fugir (fight or flight) para nos protegermos. Quando a ameaça é real, está na nossa frente ou é algo que podemos fazer, como um animal prestes a nos atacar ou uma casa pegando fogo, fica fácil saber qual a nossa reação. Mas, quando essa ameaça vem de algo desconhecido e que não temos controle nenhum, como o nosso futuro ou a consequência indireta das nossas ações?
Isso faz com que sintamos algo que chamamos de “angústia”. Essa angústia é o que nos move para fazermos algo da nossa vida e nos faz tomarmos decisões melhores. Quando escolhemos algo que não nos agrada, essa angústia toma conta de nós e, para evitar esse sentimento, da próxima vez que isso acontece, escolhemos diferente, até acertarmos. É isso que chamaos de responsabilidade: quando, além de escolhermos, escolhemos também as consequências das nossas escolhas.
A experiência e os bons projetos de vida são a melhor forma de não vivermos constantemente angustiados. Mas existe uma forma mais fácil de fazer isso: a culpa.
A culpa é minha e eu faço com ela o que eu quiser!
Quando os primeiros grupos humanos descobriu que todos nós vivemos a partir desse princípio da angústia e da responsabilidade sobre nossas escolhas, eles descobriram que poderiam manipular esse sentimento para controlar as massas. Eles criaram a culpa.
Uma coisa que precisamos entender sobre as escolhas e a responsabilidade: TODA escolha que tomamos sempre envolve pelo menos duas pessoas, ou seja, está em uma relação. Não precisa ser uma pessoa necessariamente, mas sim algo com o qual nos relacionamos. Porém, essa responsabilidade sempre é compartilhada com a outra parte, pois as decisões nunca são feitas sozinhas. Por exemplo, se um casal faz sexo e a mulher engravida, tanto o homem quanto a mulher são responsáveis pelo bebê, ou seja, precisam aceitar as consequências da gravidez.
Na relação de culpa, pega-se a relação responsável, e coloca-se toda a responsabilidade que deveria ser compartilhada somente em cima de uma pessoa. Essa pessoa é então culpada e o sentimento de culpa que ela sente é o de angústia da responsabilidade pela ação. A outra parte, por não ser responsável pelas consequências de seus atos, não sente mais angústia! E qual a vantagem disso? É que a parte culpada pode ser desculpada pela parte não culpada. E assim, ninguém vive mais com angústia!
Se ninguém vive mais angustiado, qual o problema? Isso não é bom?
O problema é que a angústia nos leva a sermos responsáveis. Se não temos mais angústia, não temos porque nos responsabilizar por nossas ações. Podemos escolher sem medo das consequências, porque se fizermos algo errado, podemos ser desculpados depois. Tudo bem eu quebrar o copo por não prestar atenção às coisas à minha volta: vão me perdoar e não terei que fazer mais nada a respeito disso.
A vida sem angústia é uma vida irresponsável, é uma vida que não nos pertence, pois não temos mais responsabilidade sobre a consequência das nossas escolhas. Tudo pode acontecer e nada mais é nosso. Se cometemos um erro, ele não nos pertence. Mas se cometemos um acerto, nós o queremos para compensar a falta de experiência alcançada com nossos erros.
Erros e acertos fazem parte da vida e todas as experiências são válidas. Viver de culpas e desculpas é somente aceitar os acertos e dispensar os erros. Sem erros, temos menos experiências e para preencher essa lacuna procuramos sempre mais acertos! Então sempre queremos mais e mais. Só ficamos satisfeitos com a perfeição. O mundo então passa a ser monocromático, onde só o bom e o certo é aceitável. O mau e o errado é ignorado, desculpado e deixado de lado.
A vida perde sua cor. E de quem é a culpa? Da culpa. Ou seja, graças a esse mecanismo de culpa-desculpa que vivemos, deixamos de nos responsabilizar por nossos atos, deixamos de aprender com nossos erros, deixamos de mudar e sermos pessoas melhores graças às nossas experiências.
Me sinto culpado agora. Qual é a solução pra isso?
Pra começar, deixar de se sentir culpado. Como? Reconheça a situação que promoveu esse sentimento. Reconheça as partes envolvidas e aceite a sua responsabilidade sobre o ocorrido. Não queira aceitar a responsabilidade pelos outros já que isso é tornar o outro irresponsável, o que o torna irresponsável também. Não queira abraçar o mundo e reconheça suas limitações. Aprenda que o erro também é válido e necessário para chegarmos onde queremos chegar. Faça projetos responsáveis e faça escolhas responsáveis. Perceba que essas ações são próprias da sua vida e retome ela para você e não deixe que ninguém escolha por você.
“Pedras no caminho? Coleciono todas, pois com elas irei construir o meu castelo“.
Viver sem culpa é viver responsável por suas ações, é não aceitar desculpas e fazer as coisas para que as consequências das nossas escolhas sejam sempre as melhores possíveis, dentro daquilo que queremos, planejamos e projetamos para a nossa vida e daqueles com os quais nos relacionamos. “Devo fazer minha escolha como se ela fosse a escolha da humanidade toda“, já dizia Sartre, grande inspirador deste texto. Mas isso não quer dizer que devemos escolher por todos, somente que a minha escolha deve levar em consideração as outras pessoas: quais? Todas.
Talvez assim possamos recobrar as cores da nossa vida criada pelas nuances das nossas escolhas. Tentem! Se der certo, me avisem aqui. Sei que dá certo pra mim e queria compartilhar esse sentimento com vocês.

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