terça-feira, 23 de junho de 2015

CADERNO


Por Carlos Delano Rebouças

Passando suas folhas com todo o cuidado, pois não podemos amassá-las, muito menos rasgá-las, leio o que escrevo em suas linhas pautadas, seguras ou não em arames, que importa, mais vale entender que ele é meu caderno, onde posso desenvolver toda a minha aprendizagem de vida.

Meu pai diz sempre: “Cuidado meu filho, com seu caderno! Comprei-o com tanta dificuldade”.

Disso sempre soube. Meu pai sempre fez tantos esforços para a minha educação. Tenho que saber aproveitar o pouco que pode me oferecer, pois sendo bem aproveitado, certamente semearei grandes frutos num futuro tão incerto.

Levo meu caderno para a escola como se levasse uma joia preciosa. Confesso que me entristece muito ver colegas sem o mesmo cuidado. Não me refiro ao cuidado com a educação, este, há tempos, perdido entre os interesses humanos. Refiro sim, ao cuidado que deveria ter com esse bem tão precioso, de folhas incipientemente brancas, que acabam se tornando pardas, sujas, rasgadas, e tão desvalorizadas.

Confesso também, que muito me entristece quando vejo o uso do caderno e de suas páginas, para outros fins. Desenhos que fogem da realidade educacional, ou, aviões feitos para dar asas à imaginação, em busca de voos que não levam a lugar algum.

Com o meu caderno, não! Respondo com veemência aos pedidos de “dê-me uma página do seu”. E continuo com meus argumentos, para decretar sepultada qualquer investida futura: “o meu caderno é meu instrumento mais importante de aprendizagem, pois nele, registro meus estudos, aqueles repassados pelo professor ou em consulta aos livros de apoio. Nele, exercito a escrita e a leitura, e com eles, conseguirei desenvolver mais ainda o meu gosto pela educação”.

Que pena, meu discurso em prol da defesa do caderno somente arrancou risadas de meus colegas, que no máximo, carregavam nas mãos arames, esticados, do que um dia foi um caderno de estudos.

Não importa. Fiz e faço minha parte. Preservo o meu caderno, este objeto tão bem definido na canção de Toquinho, e que é tão pouco tocada na mídia que não valoriza a educação como deveria acontecer.

Para com esses que hoje depreciam o caderno; que não dão o valor que merece; e que riem de quem o reconhece como um instrumento de edificação humana, acima de tudo, educacional, resta-nos somente lamentar, e torcer que um dia, e que não demore muito, voltem a olhar para o caderno como um recurso de libertação.



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