sábado, 13 de julho de 2013

ROMANTISMO - ESCOLA LITERÁRIA DIGNA DE APRECIAÇÃO

O romântico Almeida Garrett inova a poesia portuguesa, enunciando seu drama amoroso em Folhas Caídas, causando indagações na alta sociedade lusitana
A obra em que Almeida Garrett libertou-se completamente do estilo de época arcádico, Folhas Caídas foi publicada em 1853, no período romancista em Portugal. Cantando o amor de forma inovadora, o poeta causou polêmica nos leitores ao supostamente retratar em seus versos, o amor não correspondido que sentia pela então baronesa Rosa Montufar Infante, também conhecida como Viscondessa da Luz. Lançando sua última obra em vida, escrita na maturidade, Almeida Garrett abandonou os versos brancos e a compôs dando predominância a outro recurso estilístico, os versos livres, redondilhas maior e menor. Levou a poesia um toque dramático e, utilizando de uma linguagem simples e emotiva, transmitiu conflitos do estado da alma.

O drama do amor

No poema Este inferno de amar, o eu lírico nos mostra uma confusão espiritual em relação aos sentimentos da paixão. Usando de figuras de linguagem, como antíteses e paradoxos, o terceto de seis versos livres declamam o amor e a dor. (Texto I)

Logo no início do primeiro verso, o eu lírico nos transparece uma ideia totalmente contrária do que se tem do amor, para ele, o sentimento retrata tristeza, dor e angústia por tê-lo no coração. Há de se notar, ainda na primeira estrofe, uma confusão de pensamentos, pois ora o amor encoraja, ora anula o ser, desejando, no último verso, o apagamento total desse sentimento, dentro de si.

Na segunda estrofe, o "eu" lírico não deseja simplesmente retornar ao passado para obter outra vida, o desejo é quando o amor era somente um sonho, fato típico dos românticos, mas não o sofrimento real que hoje vivencia. Nos versos finais faz a alusão ao passado, quando seus dias eram mais serenos, antes de se concretizar a paixão e começar a sentir o inferno de amar; em contrapartida, o sujeito poético afirma que somente começou a viver quando conheceu seu objeto de desejo, ao fitar seu olhar nos sensuais "olhos ardentes" do outro, causando-lhe a dor e o prazer. É suplico e também aprazível esse sentimento que corrói sua vida e, conjuntamente, lhe dar amor. Revelando em tom irônico a impossibilidade de amar, em junção de características bem romanescas, o poema Não te amo é composto de anáforas, com rimas consoantes e toantes no seu sexteto de quatro versos livres, nos quais, o primeiro verso de cada estrofe é mais longo e os outros três são menores, compondo-se de seis sílabas. (Texto II)

A negação da paixão
Iniciando com musicalidade a sua confissão de amor às avessas, o eu lírico declama seu sentimento pela mulher imaculada, pois ela parece ser intocável por ele. De caráter bem subjetivo, há nos versos o drama da morte de sua alma, pois o mesmo possui dentro de si "A calma do jazigo".

Na segunda estrofe, se por um lado o eu poético demonstra um amor carnal ao afirmar "quero-te", por outro lado o seu amor transparece de forma idealizada; há a negação de sentimento, uma inércia espiritual. A paixão sensual que é manifestada na terceira estrofe causa no poeta uma espécie de arrependimento, que é eminente nos versos seguintes, quando o eu lírico declama uma existência deplorável de si mesmo.

Na estrofe final temos a mulher como a típica "mulher demônio" dos períodos romanescos, o desconforto sofrido pela incapacidade de amar e, conjuntamente, desejar a mulher que deveria possuir somente em plano ideal, causando um conflito, isto é, um dualismo entre o amor e o querer.

A dor é o prazer

Formado por três tercetos de seis versos em redondilha maior, o poema é composto do paradoxo "gozo e dor", no qual observamos também a forte presença do pronome "tu", juntamente com antíteses e hipérboles. (Texto III) Na primeira estrofe, os três primeiros versos proferem uma pergunta ao "tu", na qual o próprio "eu", ao respondê-la, parece tentar justificar sua resposta nos versos seguintes que formam o poema.

Na estrofe segunda, o eu lírico demonstra melancolia pelo "tu", mesmo transparecendo ser amado por ele, sua alma não encontra estado de satisfação; o prazer, para o "eu", quando sentido de forma demasiada, acaba por ser transformado em dor. Na terceira estrofe há uma declaração penetrante da paixão, o eu lírico parece ser um refém total do "tu", punindo-se por sentir um amor sensual e mostrando uma instabilidade emotiva em relação ao próprio "eu", quando afirma "ou a vida - ou a razão", como se o sentimento assim posto não lhe saciasse a vida.

FIQUE POR DENTROUm breve retrato do artista e de sua estética
João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu na cidade do Porto, em 1799, vindo a falecer em 1854. Além de escritor foi também jornalista, político e advogado. Introdutor do período romancista, é considerado o iniciador da prosa moderna em Portugal. À época do seu primeiro exílio em Paris, publicou no ano de 1825 sua obra de grande renome no período romancista português: o poema lírico-narrativo "Camões". Admirador do teatro, o autor dedicou parte de seus estudos a dramaturgia, principalmente ao clássico grego. Na poesia, foi um dos primeiros a se libertar dos estilos clássicos do século XVIII, e a introduzir em seu país de origem uma nova estética romântica. Propala em 1853 seu último livro, Folhas Caídas.

Trechos
TEXTO I
Este inferno de amar - como eu amo! /mo pôs aqui n´alma… quem foi? / Esta chama que alenta e consome, / Que é vida - e que a vida destrói. / Como é que se veio atear,

/Quando - ai se há-de ela apagar? /// Eu não sei, não me lembra: o passado, /A outra vida que dantes vivi / Era um sonho talvez… foi um sonho. / Em que a paz tão serena a dormi! /Oh! Que doce era aquele olhar… / Quem me veio, ai de mim! Despertar? /// Só me lembra que um dia formoso / Eu passei… dava o Sol tanta luz! / E os meus olhos que vagos giravam, / Em seus olhos ardentes os pus. / Que fez ela?

Eu que fiz? Não o sei; / Mas nessa hora a viver comecei...

TEXTO II
Não te amo, quero-te: o amor vem d´alma. / E eu n´alma - tenho a calma, / A calma do jazigo. /Ai!, não te amo, não. /// Não te amo, quero-te: o amor é vida. / E a vida - nem sentida / A trago eu já comigo. /Ai!, não te amo, não. /// Ai!, não te amo, não; e só te quero / De um querer bruto e fero / Que o sangue me devora, / Não chega ao coração. /// Não te amo. És bela, e eu não te amo, ó bela. / Quem ama a aziaga estrela / Que lhe luz na má hora / Da sua perdição? /// E quero-te, e não te amo, que é forçado. / De mau, feitiço azado / Este indigno furor. / Mas oh! Não te amo, não. /// E infame sou, porque te quero; e tanto / Que de mim tenho espanto, / De ti medo e terror... / Mas amar!... não te amo, não.

TEXTO III
Se estou contente, querida, / Com esta imensa ternura / De que me enche o teu amor? / - Não. Ai não; falta-me a vida; / Sucumbe-me a alma à ventura: / O excesso de

gozo é dor. /// Dói-me a alma, sim;

e a tristeza / Vaga, inerte e sem motivo, / No coração me poisou. /Absorto em tua beleza,

/ Não sei se morro ou se vivo, / Porque a vida me parou. /// É que não há ser bastante / Para este gozar sem fim / Que me inunda o coração. / Tremo dele, e delirante / Sinto

que se exaure em mim / Ou a vida - ou a razão.

NATALI DE MORAES SILVACOLABORADORA*

*Do Curso de Letras da Uece

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